sábado, 30 de abril de 2011

Precisamos ter Coerência em nossas Atitudes!




VOCÊ É COERENTE?
Por Eduardo Farah*

Faça o que digo... mas eu não faço o que eu falo. Quantas pessoas e empresas você conhece que são a prova viva dessa frase? E, olhando para si mesmo, quantas vezes você sentiu que aplicou esse “conceito”, prometendo muito (ainda que por nobres motivos!) e no final não cumprindo nem metade?

Não é difícil encontrar situações em nossas vidas que refletem isso. Recordo-me de uma vez ter feito um belo discurso para a minha equipe, falando do valor e da importância deles. Entretanto, fui apontado por eles como centralizador e controlador, o que em outras palavras significava que, na prática, eu não confiava na capacidade deles.

Incoerência é a palavra que está por traz dessas situações. Ela se traduz na desarmonia entre o dizer e o fazer, na ausência de congruência de algo com o fim a que se destina, na falta de lógica ou conexão entre as idéias e as ações. O conceito é aparentemente simples, mas quando ele ocorre em nossa vida traz como conseqüência uma série de problemas que, com o tempo, interferem nas nossas relações pessoais e profissionais, estragando relacionamentos, dificultando as amizades e prejudicando a empresa onde se trabalha.

No mundo corporativo, constantemente ouvimos os diretores e gerentes dizendo: “quero trabalho em equipe, preciso da opinião e participação de todos”. Entretanto, quando conduzem uma reunião, muitos acabam decidindo tudo sozinhos. Do outro lado, funcionários prometem metas incríveis, tentando se destacar dos demais, e depois não conseguem atingir seus objetivos (a culpa, claro, sempre recai nos colegas, na empresa, nos clientes, nos concorrentes...).

As atitudes incoerentes geram um círculo vicioso, pois alimentam conflitos diários e, conseqüentemente, levam à desmotivação e mais incoerência. O clima fica pesado e as pessoas deixam de confiar uma nas outras, esperando sempre algo contrário ao o que é dito, já que a experiência delas mostra que o real é diferente do prometido.

Quando nossos pensamentos e ações não estão em harmonia, nós também nos sentimos incomodados, afinal nunca estamos envolvidos de corpo e alma em nada. O tempo e a energia acabam sendo gastos em estratégias de defesa: “quem vou acusar se o projeto não der certo? A culpa é do cliente, não minha! Ninguém me entende...”. Esses são pensamentos comuns. A pessoa se sente ameaçada pelos outros, tem medo de ser autêntica e, depois, ser criticada ou responsabilizada pelos problemas.

Qual a conseqüência disso? Se alguém passa o dia inteiro falando – ou pensando - mal da empresa, dos colegas ou dos clientes, naturalmente essa negatividade acaba transparecendo, seja na dificuldade de implementação de processos (cumprimento de metas), no relacionamento com os outros, como no trabalho em equipe ou ainda no atendimento ao cliente. Aos poucos, a vontade e o envolvimento diminuem, já que toda a atenção está voltada para o conflito, para o medo, para aquilo que não nos parece coerente. As palavras do outro passam a ser julgadas por esse prisma negativo e a pessoa se sente injustiçada, perseguida, sozinha...

Quando a tranqüilidade e espontaneidade não existem, a desconfiança toma conta da pessoa. Como ser espontâneo ou confiar em alguém, se tenho medo do que fará ou falará? Se vejo que há “mentira” no ar? Se isso tudo está desconectado de valores como honestidade, transparência, ética etc.? Conforme agimos contra nossos princípios (ainda que de forma não totalmente consciente), o que é o mesmo que dizer que somos incoerentes com o que acreditamos ser o melhor para nós e para os outros, perdemos gradativamente a esperança e a capacidade de enxergar possibilidades de transformação. Nesse ambiente, dificilmente daremos o nosso melhor ou seremos capazes de permitir o nascimento de idéias e projetos, pois não há espaço para o novo.

Quando “falo A e faço B”, enfraqueço a minha imagem e a da própria empresa, afinal credibilidade nada mais é do que a soma de transparência e de coerência.

Como, então, mudar de atitude? Como ser coerente? O primeiro passo é reconhecer as incoerências, ou seja, o olhar para dentro de si mesmo e trazer à superfície nossos maiores medos. Isso contribui para a mudança de atitude, funcionando como uma espécie de auto-análise. Muitas vezes, precisamos pedir ajuda dos outros para que apontem aquilo que não conseguimos enxergar (nesse caso, é muito importante estar aberto às críticas que surgirão e que quase sempre doem).

Se a falta de conexão entre idéias e ações já ultrapassou a esfera individual e se generalizou pela empresa, uma visão externa, com a ajuda de profissionais especializados, pode ser uma boa solução.

De qualquer maneira, o importante é não temer a incoerência! Ela é muito mais nociva quando ignorada do que quando tomamos contato com ela. Afinal, somente podemos mudar algo que conhecemos. É como uma doença. Só podemos tratá-la quando reconhecemos que estamos doentes.
Devemos lembrar que todos, profissionais e empresas, temos pontos a serem melhorados. Precisamos somente descobrir quais são os principais e enfrentá-los com clareza e motivação, caminhando rumo ao crescimento pessoal e profissional. E esse caminho, feito com coerência, traz muitos bons frutos. Experimente!
Sugestão de leitura:
O Poder do Não Positivo. Willian Ury, Elsevier Editora, 2007

* Eduardo Elias Farah é doutor em administração pela EAESP/FGV, palestrante e consultor especializado e sócio da Chama Azul Business Care.
E-mail: edu@chamaazul.com.br

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