quarta-feira, 27 de abril de 2011

Prevenção e Controle da Cárie Oclusal - Estado da Arte


A política econômica brasileira adotada no século passado trouxe como resultado uma má distribuição de renda e, consequentemente, elevados índices de doenças, em particular a cárie dentária. No entanto, estudos recentes comprovam que a prevalência de cárie vem declinando, com um paralelo aumento no número de crianças livres de cárie. Dentre os fatores que contribuíram para a diminuição na incidência da doença, destaca-se o uso do flúor, sendo todas as fontes responsáveis por uma redução de até 55%. O efeito restante tem sido relacionado às mudanças na dieta, melhoria na higiene bucal e à mudança na filosofia de tratamento e prática dos profissionais. Contudo, observam-se ainda altos índices de cárie em sulcos e fissuras.

As fissuras dos molares permanentes (MP) são geralmente as primeiras superfícies dentais a serem afetadas pela cárie em grupos etários jovens. Um ano após a erupção de primeiros MP, mais de 10% já se apresentam cariados. Dentre os fatores relacionados à vulnerabilidade da superfície oclusal de MP em estágio de erupção destacam-se o fechamento incompleto das fissuras, baixo grau de maturação do esmalte e retenção de biofilme nestes sítios. O acúmulo de biofilme é maior na superfície oclusal dos MP do início da erupção até o estabelecimento da oclusão e, nesse sentido, este deve ser o período de maior risco para o começo da lesão cariosa de sulcos e fissuras.

Há 35 anos atrás, as opções de tratamento para a superfície oclusal dos MP eram limitadas. Se a superfície oclusal estivesse cariada seria restaurada. Se não, seria observada até o início da cárie em sulcos e fissuras. Os dentistas acreditavam que a cárie poderia ser controlada através da restauração de cada cavidade detectável. No entanto, conhecimentos atuais indicam que colocar uma restauração vai ocasionar perda de tecido dentário em superfícies que poderiam ser remineralizadas.

Atualmente, os dentistas têm outras opções não invasivas na superfície oclusal, como a aplicação de selantes, a aplicação tópica de vernizes fluoretados, a orientação dietética e a instrução de higiene oral.

Assim, a escolha do melhor método preventivo e de controle de lesões cariosas em superfícies oclusais consiste, fundamentalmente, na determinação do risco de cárie do paciente em desenvolver a doença, que dependerá do estágio de erupção dentária, do acúmulo de biofilme e do seu estado motivacional e do de seus pais.

Os selantes, de preferência os fluoretados, estariam indicados nos casos de sulcos e fissuras hígidas ou com lesões em esmalte dependendo da macromorfologia oclusal do dente e do estágio de erupção dentária em pacientes cujos fatores etiológicos e determinantes da doença não forem passíveis de controle.

No caso de pacientes de baixo risco em desenvolver a doença, com bom estado motivacional e dentes que não permitem um bom controle de umidade ou que já atingiram a oclusão funcional, estaria indicado o controle dietético, o controle do biofilme bacteriano e, ainda, o uso de vernizes fluoretados, uma vez que a aplicação de selantes não se justificaria, sendo considerado um sobretratamento.

São necessários critérios de avaliação de vulnerabilidade de cárie precisos e objetivos. A vantagem econômica de tal identificação é reduzir os custos, direcionando medidas preventivas para os pacientes detectados como vulneráveis e evitando que pacientes de baixa vulnerabilidade recebam medidas preventivas desnecessariamente. Desse modo, parafraseando Kramer et al (1997), "o cirurgião-dentista irá fornecer ao paciente certo o tratamento certo na ocasião certa", tendo em mente sempre o caráter multifatorial da doença cárie.

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